Dia: 31 de outubro, 2012

Contos de Terror – Assassino da pomba


 

Estava sentado em um banco da praça. Nunca me sentia bem, o local representava uma maquiagem da miséria e fome. Logo, tirei da mochila um saquinho de biscoito de leite. Automaticamente uns bichos atrevidos e pestilentos se aproximaram… Eram pombas, aliás, odeio este animal. Ele é muito esquisito e conformado com o seu estado natural. Não sei porque este ser, ainda vive.

Minutos depois um homem sentou no banco que eu estava. O seu rosto mostrava o símbolo daquela praça, uma junção de social com tormento – Socialtormento. O mesmo deve ser conhecido pela sociedade como mendigo. Ele olhava o jeito que eu alimentava as pombas. Seu estilo era bem típico: Um senhor velho e desgastado pelo tempo, tendo em médias uns cinquenta anos, barbado, roupas sujas e rasgadas, sua alma, havia contaminado -se, pelo seu escarnecido cheiro.

Depois começou a me encarar, até que, teve coragem de se pronunciar.

— Você poderia – me dar uma bolacha?

Enfaticamente devolvo a resposta.

— Não!

Sua cara mudou, o ar da indignação sobrevoou por ali.

— Como assim?

Repeti minha sonora resposta.

— Não vou dar nada.

O mendigo mostra toda a sua revolta, pondo – se a gritar em seguida.

— Quer dizer, que a vida deste bicho vale mais que a minha?

Alegrando-me, alimentei-me, do que ele queria ouvir,

— Para mim, a vida deste animal, vale mais que a sua.

Ele da dois passos para trás, dizendo…

— Teu vagabundo, eu tenho mais validade que este animal, sou um ser humano.

Então, fechei meus punhos, elevei minha voz para sobrepor a dele.

— Legal! Interessante o seu raciocínio consegue se valorizar como pessoa, mas para meu ser, aquela pomba tem mais importância do que o senhor. Ponha – se fora daqui…

Assim que terminei, ele saiu esbravejando.

Voltei a sentar-me, refletindo por vários minutos e, no fundo daquele episódio, o mendigo tinha razão…Como posso – me valorizar, vivendo de uma forma animalesca, tem dias que não tenho destino e nem objetividade.

Independente disto, o homem pobre, teve um azar enorme. Odeio com ardor de minha alma, a existência dos fracassados.

Comecei a contemplar o sabor de ter asas, parecia ser algo mágico, poderia voar pelas estradas dos seres ignorantes, seria interessante. O inevitável aconteceu em seguida. Aquele maltrapilho, um excomungado do sistema, atacou a pomba.

Imediatamente eu gritei…

— Seu insano, o que esta fazendo?

Ele não me ouvia, sua cegueira virou um estorvo para sua consciência.

Pouco a pouco, ele pegou a pomba, sua mão cascuda, apertava o pescoço frágil daquele bichinho, com a outra, puxou com tanta violência as patas, que em seguida, as arrancou, eu via, segundo por segundo a vida fugindo do animal. Ele entortou o pescoço até o mesmo sair do tronco. Não tive coragem de impedi-lo, fiquei ali, parado.

Após terminar, jogou com muito furor no chão um corpo sem vida, se aproximou, começando a segunda parte, pisoteou, estraçalhando toda aquela pomba. Quando ele pareceu terminar, olhou para mim, tinha sangue por todo lado, inclusive nele. Dizendo o seguinte…

— Agora a minha vida, tem mais sentido do que este animal. Eu quero as bolachas!

Nem relutei, entreguei o pacote inteiro. O mendigo agradeceu, passou sua mão ensanguentada no seu rosto. Indo embora…Por instantes, dei créditos de um fracassado para o homem assassino de pombas. Talvez, tivesse feito com pressa uma avaliação, vai ver, eu era o fracassado. No caminhar do mendigo, eu seguia com olhares, todos seus passos, teve um momento que perdi – o de vista, sua sombra virou uma escuridão.

No final, eu admirei – o, como nunca fiz a ninguém.

 

 

 

 

Somente os francos caminham por aqui! Mudanças…

 

Quando oceano entrou na sala, viu um local cheio de mesas, com várias cadeiras. Tinha também um homem, alto, realmente alto. Ele sorria, ao mesmo tempo que seus olhares encontraram um ponto em comum. Ouviu-se um canção nascendo daquela elevação humana. Uma música soava de sua boca, era para Oceano!

Ela ficou perplexa, olhando e admirando aquele gesto.

As palavras diziam sobre uma estrela não perder seu rumo, em biografar sua história de vida, no peito da humanidade. Ao final, aquela musicalidade toda era para brindar a entrada da mulher.

Comovida, lançou-se ao chão, queria conter suas lágrimas. Não podia, uma dor inundava sua alma. Até as letras do seu nome, encharcou – se de tanta melancolia. Sua luta era em viver! Foi então, que o homem estendeu sua mão.

— Por favor! Saia deste lugar…

Ela aceita o gesto.

— Você deve ser o Garçom.

— Sim, eu sou.

Naquele instante tudo estava claro para a mulher, sua vida poderia mudar. A felicidade estava próxima, ela sentia.

Resolveu expor sua jornada.

— Eu sofri… Houve-se uma quebrada na sua fala.

— Oceano! Pare agora. Não precisa recorrer a sua memória. Eu sei de todo os seus passos.

Ela apenas agradece.

— Obrigada!

Expressando uma face de amigo, com um sorriso na lateral.

— Quero que responda uma única pergunta. Poderia fazer isso?

Começava a passar um monte de coisas ma cabeça, o que seria que o Garçom desejaria? Imagens sendo montadas como um quebra cabeça, até os vasos que ela um dia quebrou, foi reconstruindo aos poucos.

— Sim, o que quiser.

Ele foi rápido na questão.

— Quem é o culpado da sua infelicidade?

Uma flecha foi lançada pelo garçom. Algo que nem Oceano esperava. Quem seria culpado pelas infelicidades de sua trajetória. Tudo que vinha em sua mente trairia o bem. Lembrou-se de tantas situações. Todas suas perfeições sendo derrotadas, sua invencibilidade perdida, de todas as estações e velas sopradas, ela carregou-se de frustações. Ao final, não entendia sua foto sem maquiagem, o brilho da chama de Deus, nela havia sido apagado quando ela perdeu seu bebê. Resolveu parar de impressionar seu momento presente, abriu sua boca, soltando para fora tudo que sentia.

— Chega!

Iniciou gritando.

— Fui morta várias vezes, por todos que apareceram em minha vida, lutei contra o crime da humanidade, pensei em amar, mas fui traída. Ele me despejou em um lugar fétido e louco, por acreditar, que não tinha mais conserto mental.

O garçom senta, para apreciar mais ainda os minutos que se passavam por ela.

— Nunca tive tempo para entender as lacunas do meu ser, meu sangue ia jorrando pela terra pisada pelos que me maltratavam, nenhuns deles me viam, ninguém.

Sua agonia e choro aumentavam a cada palavra dita.

— Eu sou uma idiota! Sou uma imbecil, por escolher, e ser escolhida pela vida fracassada. Eu esperava mais de mim e, dos outros… Ansiei tanto das pessoas, lutava para ecoar do coração alheio, belas palavras. Sabe, Garçom, o que encontrei? Não deixando ele responder. — Ao contrário, eu encontrei o silêncio! Que calava minha boca, esquecendo a singela paz.

O Garçom resolve aproveitar o vocábulo do tempo dado por Oceano, para induzir algo no ar.

— Você afirma, que sua felicidade depende de outros? Quer dizer, que sua infelicidade foi dada pelo que caminharam contigo?

Oceano já demonstrava um pouco mais de controle.

— Garçom! Cheguei até aqui, sozinha! Lutei nos últimos anos, sozinha! Fui abandonada pelo amor, sobrando o vazio dos beijos, fiquei, sozinha! Gritei, sozinha! Chorei, sozinha! Se brincar, amei, sozinha! Eu sou isto, me criaram assim, sou uma cria da humanidade, nasci e cresci em um lugar tão miserável, parecendo um criatório de seres vivos, nunca pedi dor, e no final, massacraram minha identidade mulher, minha biografia de mãe.

— Tem muita mágoa Oceano!

Controlando o ar que ofegava seu peito.

— Garçom! Magoada não, revoltada. Portanto, como percebeu, preciso de sua ajuda.

Ele se levanta, vai até o balcão, pega uma garrafa, abre, põe um pouco no copo, olha para ela.

— Querida Oceano, aqui tem o Liquido da Sinceridade, ou, como conhecem, Líquido Simplicitate.

— Para que serve?

— Beba e saberá…

Ela vai até o balcão pega o copo, levando o copo a sua boca. O garçom segura sua mão.

— Após beber, irás retornar de onde veio.

Oceano volta com o copo.

— Como assim? Então é só isso?

Pegando um pano e passando no balcão.

— Para ti, o que tem é só isso. Nada mais… Beba e vá refletir tudo que disse, tudo que sente, volte para o seu caminho. O líquido demora fazer efeito.

— Espere! Não pode ser um simples copo, não desbravei esta cidade, para acabar desta forma.

Fechando o seu semblante, Garçom bate no balcão.

— Cale-se… Não aguento mais esta sua naturalidade em acusar o mundo, destronar pessoas que erraram com o seu ser. Teu coração não bate mais a esperança, tua vida, foge da regra da humildade, quer ajuda, mostre-me que mereça, chegou até aqui, para não reconhecer que erraste. Quando cair, não delete o seu tirano, petrificando a ação dele, nunca saíra do chão, precisa entender, que a vida e os seres humanos, não nasceram para lhe fazer feliz. Todos querem encontrar a felicidade, por tal, erram sempre.

Ela se assusta. Em seguida bebe o Liquido.

— Oceano! Me ouça, tu podes transbordar o universo com sua bondade, teus sonhos podem ajudar muitas pessoas, para de calejar suas virtudes, colha mais amizade, não agrida mais o tempo. Desejo sua felicidade plena.

Colocando o copo no balcão, Oceano, pergunta mais uma coisa.

— O que devo fazer?

Voltando a ficar feliz,

— Já que bebeu, volte de onde veio, ao fazer o efeito, entenderás tudo que ocorreu na sua vida. Siga até a porta.

Ela caminha…

— Garçom! Acabou?

— Não! Ele olha diretamente para o coração da Oceano. — Logo, nós encontraremos novamente, e quando ocorrer, voltarás a estar contente.

Oceano seguiu até a porta, abriu, pensou, — Eu desejo ser feliz.

Fim

Quer saber mais:

https://regozijodoamor.wordpress.com/2012/10/23/somente-os-francos-caminham-por-aqui-a-dor/